Distrito Federal

Estudante de 16 anos é assassinado com facada em assalto na Asa Sul

Um estudante de apenas 16 anos foi morto com um golpe de faca durante um assalto na Quadra 112 Sul, na Asa Sul de Brasília na noite desta sexta-feira (17).

De acordo com a Polícia Militar, o jovem estudante do Colégio Militar de Brasília, identificado como Isaac Augusto de Brito, foi abordado por menores e teve o celular roubado. A vítima então teria corrido atrás para tentar recuperar o aparelho, quando foi atingido por uma facada no peito.

Um morador da quadra vizinha fez um relato emocionante nas redes sociais e revelou que o Corpo de Bombeiros e o Samu demoraram para chegar ao local. As equipes de resgate realizaram tentativas reanimação, mas o jovem não resistiu.

Cinco menores foram apreendidos suspeitos de participação no crime. No entanto, o autor da facada ainda está foragido e continua sendo procurado.

Leia o relato do homem que tentou socorrer o adolescente:

A morte mora ao lado, no parque Maria Cláudia Dell’Isola

Por Paulino Motter

A ironia é cruel. O parque entre as entrequadras 112 e 113 Sul, que leva o nome de Maria Cláudia Dell’Isola — a jovem estudante do Colégio Marista de Brasília, brutalmente assassinada em 2004 por um empregado doméstico da própria família, no Lago Sul — foi, nesta sexta-feira, 17 de outubro de 2025, palco de outra tragédia.

Eu voltava do trabalho por volta das seis e meia da tarde e, depois de descer na Estação de Metrô da 112 Sul, subia pela calçada ao lado da 113 quando uma jovem, em estado de choque, correu em minha direção. “Um rapaz foi esfaqueado”, conseguiu dizer, quase sem fôlego. Pediu que eu a acompanhasse até a entrada do metrô. Fui com ela, orientei que procurasse um policial e, ao retornar, liguei para o 192 pedindo socorro. A atendente informou que eu precisava estar junto à vítima para registrar o chamado. Corri até o parque entre as quadras 112 e 113 Sul.

Lá, na calçada de uma das entradas laterais do parque — onde há duas semanas minha filha, de 12 anos, brincava de vôlei com as colegas da escola —, estava o corpo de um garoto, inerte. Isaac, 16 anos, vestia o uniforme escolar, o peito imberbe atingido por um golpe de faca. Um colega, ao lado, tremia em estado de choque. Tentei sentir o pulso. Nada. O silêncio ao redor parecia congelar o tempo.

Aos poucos, chegaram vizinhos. Uma senhora ajoelhou-se e começou a fazer compressões torácicas. Logo depois, alguém foi avisar a família, que mora na quadra SQS 112. A mãe e o irmão vieram em seguida. Ela caiu de joelhos, gritando o nome do filho. O irmão mais velho, tomado pelo desespero, queria ir ao encalço de quem havia ferido de morte o irmão caçula.

Nada podia ser feito. O roteiro da tragédia parecia escrito a ferro e fogo. O Corpo de Bombeiros demorou cerca de meia hora para se apresentar na cena do crime. A ambulância do SAMU só chegaria quase uma hora depois. Após uma tentativa de reanimação, com procedimentos de RCP que se estenderam por quase trinta minutos, o tempo escorria — e o sangue também — sem ceder às tentativas frustradas de estancamento.

Soube depois que Isaac jogava vôlei com amigos, exatamente como minha filha, no after school. Foram abordados por três assaltantes. Ele tentou correr atrás, talvez por impulso, talvez por bravura juvenil, e foi golpeado impiedosamente no peito.

Recordei que, no último sábado pela manhã, eu havia participado de uma aula de Tai Chi Chuan ali mesmo, sob as árvores. Na estação passada, colhi pitangas maduras dentro do parque. O espaço dedicado à memória de Maria Cláudia Dell’Isola, que deveria ser um local de lazer e encontro da vizinhança, transformou-se hoje em um campo de morte.

A brutalidade que presenciei é mais que um crime. É um espelho — da omissão, do descaso, da violência que atravessa todas as fronteiras da cidade. Pensei em Maria Cláudia, cuja memória nomeia o parque. Seu corpo, também jovem, foi enterrado dentro da própria casa por quem gozava da confiança da família. Duas décadas depois, outro corpo ainda mais jovem cai — não pela perversão doméstica, mas pela barbárie da violência e pela banalidade do mal. Um celular custa uma vida.

A morte mora ao lado. Mora nas praças, nos parques, nas demoras inexplicáveis do socorro que nunca chega. Mora na ilusão de que vivemos numa bolha de conforto e segurança.

Entre deixar a sede do Supremo Tribunal Federal (STF), onde comecei a trabalhar há exatamente duas semanas, e me tornar testemunha acidental de um assassinato na minha vizinhança, transcorreram pouco mais de trinta minutos — o tempo de pegar um ônibus até o terminal rodoviário e depois o metrô até a Estação 112 Sul.

Hoje, ao ver aquele garoto de corpo esguio e inerte, com os olhos abertos e sem vida, pensei em minha filha, em todas as crianças que brincam sob o mesmo céu. E me perguntei, sem resposta: até quando vamos tolerar que as vidas de nossas crianças e jovens sejam interrompidas por essa rotina de tragédias abomináveis e sem sentido?

Chorei copiosamente a morte banal de Isaac, que atravessou meu caminho de privilégios, vaidades e falsa sensação de segurança. A sensação de impotência e passividade me deixou sem palavras e sem rumo.

Brasília, DF – 17/10/2025

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