Planaltina

Estilistas nascidos em Planaltina criam coleção inspirada na arquitetura de Brasília

A delicadeza foi o foco principal de Moisés da Silva Eleuterio, conhecido como Mackenzo, de 26 anos, e Felipe Machado Manzoli, de 28.

Os donos da marca Sacramound, nasceram em Planaltina-DF. Felipe é formado em design de moda e Mackenzo é autodidata na costura. O gosto pela moda do designer veio como herança familiar.

Já para o costureiro veio pela falta de representatividade que encontrou durante sua trajetória musical.  

O casal não mediu esforços ao representar a capital brasileira “com as mãos, com o coração e com a mente” através da coleção Portais da Eternidade-ato 1. O projeto foi apoiado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC).

“O sentimento que queríamos trazer nas pessoas que verão nossas peças é de orgulho de ser brasilienses e brasileiros”, disse Mackenzo.

A coleção

Com muitas pérolas, vidrilhos e tule, a coleção Portais da Eternidade-ato 1, que conta com cinco roupas, assinadas por Mackenzo e Felipe Manzoli, foi finalizada.

A Catedral, Igrejinha, Museu, Ponte JK e Asa Norte e Sul foram os pontos de Brasília homenageados no ato 1.

A tridimensionalidade, os bordados à mão, o artesanato, o tecido branco e as pedrarias, colaboraram para que a produção durasse um ano.

Eles fizeram com que a moda e a arquitetura se encontrassem.

“Ambos são engenharia (…) Unir o clássico, o modernismo e o brutalismo foi um desafio muito grande, queriamos fazer com que a nossa arte conversasse com a de Niemeyer e Lúcio Costa”.

Eles consideram Brasília uma referência nacional e mundial de arquitetura, urbanismo e organização.

Os profissionais entendem que, para muitos, a capital é conhecida como a “terra dos políticos” e “concursados”, entretanto eles buscaram reverter esse cenário.

“Nós pegamos os monumentos de Brasília, para gerar um burburinho ‘porque a capital do Brasil não é reconhecida pela sua cultura?”

“Nossa arquitetura ficou escondida atrás da polêmica e nós queremos trazer esse amor de volta para Brasília”, esclarece Mackenzo.

As roupas

  1. Asas Norte e Sul
Modelo na foto: Juliana Oliveira. Foto: Divulgação

Os estilistas destacam que a saia dela foi costurada quase toda a mão porque é volumosa e não passa na máquina.

Os estilistas destacaram que foram usados 150 metros de tecido cortados em tiras de 8 centímetros para a saia do vestido Asas Norte e Sul.

Além do trabalho da costura a mão, para produzir o modelo favorito de Felipe, eles enfrentaram dificuldades para encontrar o tule perfeito em Brasília, por conta de seu alto valor, tornando essa a peça com produção mais cara da coleção. 

A Asa Norte e Asa Sul formam a região central do Plano Piloto da capital Brasília. Elas fazem parte do projeto urbanístico da cidade, idealizado por Lúcio Costa, foram inauguradas em 21 de abril de 1960.

2. Museu Nacional 

Modelo: Luana Melo. Foto: Divulgação

” Ele foi feito duas vezes, descartado, até chegar nesse resultado final”, dizem os estilistas.

Eles destacam a tridimensionalidade do vestido e a textura feita artesanalmente por eles, para que só depois, as pérolas fossem bordadas por cima. 

Um dos principais ícones da arquitetura de Brasília, o Museu Nacional de Brasília, foi arquitetado por Oscar Niemeyer e conta com formas geométricas simples e imponentes. Inaugurado em 15 de dezembro de 2006, seu principal objetivo é promover a cultura e arte contemporânea.

3. Igrejinha 

Modelo: Nalu Melgaço . Foto: Divulgação

“O chapéu foi feito por um artesão do Rio de Janeiro, porque aqui, em Brasília, não temos essa mão de obra da chapelaria. Foi todo um estudo para projetar, porque por ele não ser redondo, as pontas precisam de um acabamento” .

São 17 metros de tecido branco foi o necessário para a criação da Igrejinha. Vale destacar que a peça não tem recortes. É uma coisa só. 

A Igrejinha Nossa Senhora de Fátima foi construída antes mesmo da inauguração da cidade, em 1958. Foi um pedido feito especificamente pela primeira dama da época Sarah Kubitschek, como forma de pagamento à promessa da cura da filha.

4. Ponte JK

Modelo: Lua Carvalho . Foto: Divulgação

Mackenzo e Felipe contam que foi preciso excluir a primeira peça da Ponte JK, já que o resultado não capturava a delicadeza assim como as outras.

“Usamos 12 mil vidrilhos para produzir, mas quando olhamos a peça pronta, estava muito teatral”, diz Mackenzo.

A Ponte Juscelino Kubitschek é um dos principais pontos turísticos de Brasília, conectando o Plano Piloto com o Lago Sul.

Projetada pelo arquiteto Alexandre Chan, o design moderno da ponte reflete também a ideia de progresso e desenvolvimento, fazendo alusão aos 50 anos em 5 , famoso slogan de JK.

5. Catedral 

Modelo: Joquebede Beatriz

A Catedral é a criação favorita de Mackenzo.

“Eu precisava de algo para representar o vitral da catedral, buscamos e pensamos em usar paetê e não tem aqui, tivemos que recorrer ao acrílico e mandar cortar ele no formato”. diz o estilista.

O resultado final, que demorou um mês para ficar pronto, conta com mais 700 espelhinhos bordados manualmente no corset e com mais de mil pérolas.

“Considero ela minha obra de arte”, considera o costureiro.

Esse foi o primeiro monumento construído na cidade. Arquitetada por Oscar Niemeyer, sua construção teve início em 1958 e foi inaugurada em 1970.

Dificuldades

Os estilistas ressaltaram a dificuldade de encontrar materiais no Distrito Federal.

“Esse trabalho só está acontecendo por causa do FAC, só estamos tendo acesso a comprar esse tipo de material, produzir coisas grandes, graças ao FAC”, diz Mackenzo.

O benefício oferecido pelo DF foi essencial para a criação da coleção, pois contribuiu para eles, tanto financeiramente quanto no transporte de materiais que vinham de São Paulo.

A baixa variedade de materiais têxteis em Brasília é um grande problema, pois faz com que os produtos que cheguem até a capital tenham uma baixa qualidade com um preço muito alto, tornando a moda uma área ainda mais elitizada.

O Felipe e Mackenzo desabafam sobre como a criatividade se limita quando não encontram o material que pensaram.

“Nós amamos a costura de pedrarias, mas esse mercado é muito limitado. Ou então, quando encontramos, é muito caro”, diz Felipe.

Durante a trajetória, não só dessa coleção, mas também de outras produções, contaram sobre a falta do jeans, do tule francês ou de tecidos que enriquecem o acabamento das roupas. Ademais, falam sobre o desafio de mostrar a qualidade da peça no ambiente virtual.

“Acaba que no final, a peça não chega no objetivo visual que a gente quer. Os haters questionam isso, mas a culpa não é nossa. É porque não temos acesso aos materiais”, afirma Mackenzo.

Apesar da falta de material que ainda é recorrente, falam sobre a importância do Taguacenter para a compra de materiais.

Em contraponto a todos os conflitos durante a criação, Mackenzo e Felipe conseguiram, mesmo virtualmente, tendo só 15 segundos nas mídias sociais, conectar quem é de fora, ao sentimento do que é ser de Brasília e reacender a chama do brasiliense nato.

Impacto

Bárbara Cardelino, de 31 anos, formada em Merchandising de Moda pela Kent State University, nos Estados Unidos, com MBA na Usp em Estética e Negócios de Moda, contextualizou a importância dessa coleção para a capital.

“Brasília é uma cidade de marco cultural, uma propriedade cultural do mundo, pelo seu design porque é projetada por um arquiteto absurdo”.

Ela ressalta que apesar do potencial criativo brasiliense, o que ganha destaque é sua administração. 

“Colocar em foco a beleza do design brasiliense, é trazer essa relevância, lembrar para os brasileiros que o centro do Brasil é feito de uma mistura cultural e vai além do administrativo que Brasília é reconhecido”.

Bárbara ressalta que a coleção pode tornar a capital um polo criativo, que vai muito além da visão que o resto dos brasileiros têm do DF.

A merchandiser destaca a interpretação não tão óbvia da coleção de Mackenzo e Felipe, mas vê como algo que tem um grande potencial de alavancar a moda no Distrito Federal. “Eles tem um cuidado diferenciado, é interessante”.

Agência de Notícias do UniCeub

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